50 filmes em 2020
— os 10 primeiros
Depois do vídeo que eu fiz recomendando coisas, eu percebi que não vejo muitos filmes além de alguns blockbusters no cinema. Ficar duas horas em casa parado vendo uma mesma coisa nunca me atraiu, já que eu posso ficar parado duas horas vendo várias coisas diferentes.
Mas aí eu percebi que uma galera vê uns filmes aí, coisa do tipo. E fiquei curioso por alguns deles.
Resolvi catalogar tudo o que eu assistir este ano. A ideia é ver 50 filmes em 2020. Chutei esse número porque um ano tem 52 semanas, só esqueci do detalhe de que não vi nenhum filme em janeiro.
Além do fato de organizar isso, vou falar um pouco de cada filme. Até criei uma conta no Letterboxd, apenas pra deixar os filmes logados mas continuo sem saber fazer sacadinhas™. Também não vou dar nota pros filmes, eu acho.
Não tome nenhuma opinião daqui como referência, porque parando pra pensar eu não sei se cheguei a ver 50 filmes na última década. (talvez haja exagero nesta afirmação)
Alguns textos provavelmente têm spoilers.
Este texto contém apenas os primeiros dez filmes que vi nesse ano: Parasita, Jojo Rabbit, História de um Casamento, Joias Brutas, Sonic: O Filme, Bacurau, Estômago, A Culpa é das Estrelas, Clube dos Cinco e Rocketman. Os outros estão disponíveis em guicdesouza.com.br/50-filmes-em-2020.
1. Parasita (Gisaengchung, 2019)
(assisti em 08/fev)
Uma galera elogiou, teve aquele papo de os caras darem uma zoada nos americanos que não veem filme legendado… O título me lembrou aquelas histórias de gente morando debaixo do piso de taco do quarto de um apartamento — e acaba que é mais ou menos isso?!?
Os diálogos em coreano não atrapalharam, é questão de se acostumar mesmo. Gostei das atuações, de vários takes abertões e planos (por exemplo: na hora da chuva, os três descendo a rua e as escadas).
Muito bacana a história, me surpreendeu bem. Não tem jumpscares, o que foi ótimo, mas mesmo assim fiquei um pouco chocado com as surpresas — umas duas vezes eu achei que personagens específicos tinham morrido.
O final é bem… agridoce?!? Tipo, a gente sabe né, que nunca vai dar certo aquilo. É triste, mas aí você lembra o que o povo fez e fica “é………”
2. Jojo Rabbit (2019)
(assisti em 08/fev)
Que premissa é essa, um menino da juventude hitlerista cujo amigo imaginário é um Hitler legalzão. Ainda não sei como esse projeto foi aprovado, mas ainda bem que foi.
Os muleques mandam muito bem, o gordinho de óculos é excelente, podia ter aparecido mais um pouco. Os outros atores são bons também — mano, a Rebel Wilson dando arma na mão das quiança e falando aqueles absurdos tipo “bora queimar livro aeeeeee”.
Achei o filme obviamente caricato a ponto de não reforçar o nazismo positivamente, mas alguém deve ter achado o contrário, então sei lá.
O louco é que é uma comédia mas na última meia hora o negócio muda e fica aquele clima triste pra horrível (a situação da história, não a qualidade do filme). Coitado do Jojo.
Pelo menos existe uma luz otimista no final do filme.
3. História de um Casamento (Marriage Story, 2019)
(assisti em 23/fev)
Eu achei que não ia embarcar muito nessa história. Uma história sobre divórcio, de um casal com filhos, não é nada que tenha relação com minha vida até então. E também tinha aquele clipe que viralizou dos personagens brigando numa sala branca, com uma cinematografia um pouco estranha.
Mas tentei esquecer disso e ver. Confesso que em alguns momentos me distraí, mas a história é boa, as atuações estão excelentes.
É curioso como a cinematografia “estranha” da cena que viralizou faz sentido no contexto geral. Tecnicamente tem seus probleminhas (a janela com luz estourada, por exemplo), mas é aquilo: vida real, sem muito enfeite ou perfeição. Achei isso bem notável como nas cenas em que eles tão conversando com os advogados mas rolam umas pausas aleatórias pra elogiar a bolachinha, ou pra ir buscar o óculos certo. É um negócio natural, cru.
Apesar da minha experiência nula com casamento, divórcio e filhos, creio que passou bem a imagem de um relacionamento amoroso que morreu. Ninguém ali parecia querer reatar. Eles só precisavam externar todos os problemas. Não dava mais pra reatar. Essas coisas acontecem, e achei interessante ver que isso foi aceito pelos dois.
Eles ainda vão se ver sempre, ainda têm essa ligação por causa do filho, que não tem nada a ver com isso. Agora é tentar seguir em frente.
4. Joias Brutas (Uncut Gems, 2019)
(assisti em 23/fev)
Adam Sandler num filme que não é de comédia, vamos dar uma chance. O pessoal todo elogiou ele pela atuação dramática (e ele já mostrou isso antes, em Click).
Primeiro que o filme abre com uma sequência meio psicodélica que acaba de uma maneira meio estranha, mas ok até então.
Quanta falação, meu Deus. As cenas da loja do personagem do Adam Sandler me deixaram desconfortável, o tanto de gente falando junto.
Eu admito que fiquei confuso assistindo no começo, pra mim parecia que a história demorou a engatar. Tem leilão, tem agiota, tem aposta. Não entendi muito bem algumas coisas, me perdi um pouco nos nomes e nas relações entre as pessoas, mas acabou que foi.
Não é um filme ruim. A atuação do Adam é boa. Vi em inglês — menos a infame cena em que ele fala que vai gozar, essa a internet me fez ver também na voz do famoso dublador dele.
Tive uma surpresa no final, mas parando pra pensar… deu mole demais né. O que a alegria não faz com a pessoa.
Ah, e tem a música dos créditos…
5. Sonic: O Filme (Sonic the Hedgehog, 2020)
(assisti em 26/fev, no cinema)
Graças a Deus teve um redesign. Com aquela aberração do primeiro trailer, esse filme ia ser uma desgraça.
É uma história divertida, o Jim Carrey tá excelente como Robotnik (ou Eggman, nome esse que foi citado de maneira bem espertinha no filme, inclusive). Não é uma história com camadas e com uma interpretação maravilhosa por trás, senão seria um filme da Pixar.
Teve umas referências sensacionais, tipo a menininha falando “gotta go fast” (suponho, já que vi dublado em português e ela diz “tenho que ir rápido” ou algo assim). Bem no começo do filme toca a música da cutscene inicial do Sonic Mania, maravilhosa. E ri um tantinho quando apareceu o retrato falado do Sanic, digo, Sonic.
Adorei o fato de que teve duas sequências em câmera superlenta. Deve ter baixado o preço do VFX pra imitar o Mercúrio.
Bom filme, espero que tenha uma continuação.
Curiosidade: teve uma galera mais jovem adulta (acho) que aplaudiu no cinema depois da cena entre créditos. (Mas foi boa mesmo.)
6. Bacurau (2019)
(assisti em 10/mar)
Eu falei abertamente que tinha perdido o interesse em ver esse filme por causa da violência gráfica. Mas a curiosidade foi mais forte.
É uma mistura de suspense, violência, um pouco de horror e um pouquinho de ficção científica. Já começa meio desconcertante, com os caixões sendo atropelados e tal. É um futuro próximo, a cidade some do mapa, gente sendo assassinada…
A história demora um tequinho pra engrenar de fato, mas quando vai… vish.
Uma ou outra vez eu me peguei pensando que isso poderia, com o devido tratamento, ser uma história tipo Black Mirror — e não pelo aspecto tecnológico (ok, tem uns celulares que são uma plaquinha de acrílico transparente, mas enfim), mas sim por ser aquele futuro desgraçado que você pensa “nossa que absurdo mas dependendo do andar das coisas poderia acontecer algo mais ou menos assim em algum tempo???”.
A história se passar no sertão nordestino é algo completamente alheio pra mim. Não moro no centro ou numa área rica mas ainda assim moro numa capital no Sul do país; eu realmente não tenho referência de como seria o cotidiano numa região dessa. E isso trouxe um efeito interessante, porque o filme vai te colocando naquela vivência, o povo todo reunido pro funeral, a única escola, o único hospital, enfim.
E é por isso que aquele museu é tão importante, manter a história da cidade é importante, manter registrado o que aconteceu no filme é um sinal de resistência daquele lugar.
Confesso que senti um pouco de falta de informações como: de quem são os drones ou quem tá naquele maldito ponto eletrônico ou o que levou a existir aquele passatempo desgraçado dos gringos com pontuação e tudo. Talvez esteja escondido ou até explícito no filme e eu não percebi por ser burro, ou não e nem é pra pensar nisso.
Eu tive que ver os últimos 40 minutos duas vezes. Na primeira assistida eu tava muito preocupado por antecipação (sabia que algo gráfico acontecia envolvendo cabeça e mão) e vi todo pausado. Mesmo assim, o suspense daquela sequência — sem música! — me deixou mais tenso ainda.
Na segunda vez deu pra seguir melhor o fluxo. Mas pelo visto eu ainda vou pensar um tanto nessa história.
P.S.: adorei a homenagem ao George Lucas com aqueles wipes de Powerpoint.
7. Estômago (2007)
(assisti em 13/abr)
Na onda do Babu Santana no BBB, vi muita gente elogiando esse filme numa lista de filmes que ele fez.
É a história de um nordestino que vem pra cidade grande™ (foi gravado em Curitiba, aliás) e arranja um emprego fazendo comida. Paralelamente, também mostra ele sendo preso e tendo que se acostumar à rotina na cela, junto de mais uma pá de presos.
É interessante essa montagem dual, mostra a introdução e a evolução dele em cada um dos cenários. Livre, ele começa fazendo pastel, coxinha, e vai evoluindo e tomando gosto pela culinária, além de se envolver amorosamente com uma prostituta; preso, ele vai achando seu caminho pra começar a melhorar a comida pros companheiros de cela, sempre exaltando as qualidades dos temperos e alimentos.
Esse amor pela cozinha (bastante ressaltado pelos closes, pela câmera lenta e pela trilha sonora enquanto ele prepara os alimentos) me lembrou muito aquela parada de “cozinha de verdade” (me vem à mente a Rita Lobo): de transformar a comida num hobby, de resgatar o prazer e a paixão de cozinhar. Particularmente, com 25 anos, ainda não adquiri isso completamente, admito; um dia eu consigo, espero.
O Babu faz o maioral (céus, eu tenho 65 anos) da cela, é o cara que manda em todo mundo ali, dorme na cama mais alta do beliche (de três camas, aliás, algo que eu nunca vi pessoalmente). A reação dele à história do gorgonzola é sensacional.
Claro que, como tem a história dele preso, é meio óbvio que eu fiquei o filme todo pensando o que ele teria feito. E o filme amarra essa ponta muito bem, de uma maneira até que chocante, e acaba justificando perfeitamente o que é mostrado em seguida. Baita filme.
8. A Culpa é das Estrelas (The Fault in Our Stars, 2014)
(assisti em 19/abr)
Eu conheci o John Green pelo YouTube, do Crash Course e, depois, do Vlogbrothers e coisas afins. Já tinha ouvido falar do livro de mesmo título, mas nunca tive vontade de lê-lo ou ver o filme — e só depois fui descobrir que ele era o autor. Mas recentemente dei uma chance ao último livro dele, Tartarugas até lá embaixo, e gostei, então pensei: por que não ver o filme do livro dele que mais estourou?
É a história de uma menina de 16 anos, Hazel, que tem câncer de tireoide e anda com seu cilindro de oxigênio o tempo todo, e participa de um grupo de apoio (que nem aqueles em Clube da Luta), e conhece um cara de 18, Augustus (“Gus”), que teve câncer nos ossos e por isso não tem mais uma perna.
Sim, é uma história de amor adolescente. Sim, eu assisti e gostei. Pois é, eu também fiquei um pouco surpreso. (Talvez até tenha chorado algumas vezes; ninguém viu, então não aconteceu.)
O filme mostra a relação entre os dois, a construção do amor entre eles, e a percepção deles da doença, da vida e da morte. Uma coisa que eu achei muito emocionante foi a relação e a dedicação dos pais da Hazel; quando ela tem um ataque e não consegue respirar direito, tendo que correr pra UTI, aquela foi uma cena que me deixou apreensivo.
Um dos pontos que mais me chamou a atenção foi o grande medo do Gus: esquecimento. Me lembrou algo que eu já tenho um pouco na cabeça desde que ouvi/assisti Hamilton, que é a ideia de legado: o que você fez de relevante, quem você marcou, que histórias vão contar de você, quem vai contá-las? Quando você para pra pensar, é uma questão até que importante; agora imagina quando você tem uma contagem regressiva constante como era o caso do Gus — melhor dizendo, todos temos essa contagem, mas ela fica lá escondida; você ter uma condição que te lembra constantemente disso deve ser inquietante demais.
Apesar de ser um filme romântico, não é tão meloso (era meu grande medo, que também tinha sobre o Tartarugas — não é tanto também), é triste até. A relação dos dois é tão bonita, mas a aceitação da realidade é bem forte neles também. Provavelmente por isso tenha sido tão especial, mesmo que com a tal contagem regressiva; o infinito entre dois números é uma boa metáfora mesmo.
9. Clube dos Cinco (The Breakfast Club, 1985)
(assisti em 20/abr)
Conheci esse pelo NerdOffice sobre o John Hughes, anunciado como um dos melhores filmes dele. Só tinha visto Curtindo a vida adoidado até então, mas já digo que realmente é excelente.
A premissa é até bem simples: cinco alunos de ensino médio tendo que ficar o sábado todo em detenção no colégio por alguma merda que eles fizeram. Cada um é de um grupinho diferente: o nerd, o atleta, a popular, o marginal, a estranha.
E, como a detenção é um negócio chato pra cacete, eles começam a se estranhar, porque ninguém fica de bom humor estando de castigo na escola no sábado. Tem todo um atrito entre o marginal e o diretor, que também tá lá com aquela cara de bunda, afinal é um sábado.
Mas depois de um tempo eles começam a se conhecer melhor, e começam a compartilhar experiências, opiniões, visões de vida, especialmente sobre como eles são tratados pelas próprias famílias.
Por que esse bandidinho se comporta desse jeito? Por que esse CDF é tão bitolado? Por que essa estranhinha se isola tanto? Nas próprias diferenças entre eles, existe em comum uma relação conflituosa com os pais, que ou cobram demais ou ignoram demais.
Mesmo sendo de tribos™ completamente diferentes, começa a rolar uma cumplicidade entre eles, que acaba culminando em eles revelando o que aconteceu pra irem pararem lá. Eles se conectam de tal forma que acaba virando uma grande terapia. Eles se confidenciam, se descobrem, se aliam… pelo menos até a próxima segunda-feira…
É um filme excelente, o texto e os atores são ótimos. É um baita mergulho na cabeça adolescente e, mesmo sendo de 85, não me parece tão datado. (Tá, tem algumas coisas bem clichês de filme adolescente que não seriam necessárias hoje…)
Aliás, não tem como eu não fazer relação com o meu próprio emprego (professor de ensino médio); esse filme me proporcionou algumas reflexões importantes.
Observação: Assisti dublado (pra manter o espírito anos 80), com a segunda dublagem, da Trix Brasil (não é a da Netflix). Fui nessa porque vi que era a mais elogiada.
10. Rocketman (2019)
(assisti em 11/mai)
Eu não sei nada da história do Elton John. Eu nem saberia dizer alguma música dele, a não ser (olha só) “Rocket Man”, que ouvi pela primeira vez na voz do Danny Sexbang, do Ninja Sex Party. O pouco que sei dele tem a ver com piano, os óculos e as roupas. Também vi um Carpool Karaoke com ele (ele chamando não sei quem de “bitch” me quebra).
Cenário perfeito pra eu ver um filme biográfico dele.
Esse filme saiu pouco depois do Bohemian Rhapsody, aquele filme do Queen com a conversa toda picotada. Eu assisti o do Queen no cinema, adorei, mas depois fui ver e realmente muita coisa foi mexida. Já vi alguns dizerem que é um filme ótimo pra fãs das músicas, mas não necessariamente pra fãs do Freddie, ou da banda.
O filme do Elton John vai numa linha mais ou menos similar: começa com algum evento no futuro, pra fazer uma viagem pelo que veio antes daquilo, e culminar no mesmo ponto no final. Creio que as diferenças são o uso dos flashbacks e das músicas, que ajudam a contar a história — e são cantadas pelos atores!
A atuação do Taron Egerton é excelente, e ele canta muito bem, inclusive. Não ficou nada caricato (como certas dentaduras), e deu um tom bem forte em alguns momentos. Nem parece aquele cara do Kingsman.
É uma ótima história, com boas atuações, e (de uma perspectiva extremamente limitada, a minha) creio que mostrou muito bem alguns eventos da vida do Elton John. De quebra ainda passei a conhecer novas músicas velhas.
A lista completa está no meu site (pelo menos lá os links que levam direto pra cada filme funcionam, ao contrário daqui). Então, por agora, do 11º filme em diante, tá tudo escrito lá: